quinta-feira, 9 de maio de 2013

Maioria dos paulistanos erra ao defender a armadilha cognitiva da meia-entrada

Entre 91% e 96% dos paulistanos defendem a meia-entrada, segundo o Datafolha. Esta não é a primeira nem a última vez em que uma substancial maioria se põe de acordo em relação a um tema e ela está objetivamente errada.

Na verdade, o fenômeno é tão rotineiro que o economista ultraliberal e bem-humorado militante libertário Bryan Caplan escreveu um livro, "The Myth of the Rational Voter" (o mito do eleitor racional, em tradução livre), para mostrar que o problema das democracias é que elas dão aos cidadãos exatamente o que eles pedem -e o que eles pedem é muitas vezes algo que os prejudica.

Isso ocorre porque eleitores de Estados democráticos, como todos os seres humanos, vêm de fábrica com uma série de preferências e vieses que os impelem a escolhas ruins.

Nesse contexto, a meia-entrada desponta como uma armadilha cognitiva quase irresistível. Pelo que parece ser um custo irrisório, temos a chance de promover a cultura, investir na formação dos jovens e, de quebra, ainda prestar reconhecimento aos mais velhos. Tudo isso fazendo justiça social. Descrito dessa forma, fica mesmo difícil opor-se ao mecanismo.

Para os que não acreditamos em mágica, porém, a meia-entrada representa um subsídio cruzado de resultados particularmente duvidosos. No caso dos idosos, as tabelas do IBGE mostram que as pessoas com mais de 60 anos têm renda média superior às faixas mais jovens.

Isso significa que subsidiá-los implica concentrar renda e não distribuí-la como parecia ser o objetivo.
No que diz respeito aos estudantes, o quadro é mais confuso. O desconto aqui pode beneficiar tanto ricos quanto pobres.

Mas, como observou o economista César Mattos num belo artigo sobre a meia-entrada publicado no site do Instituto Braudel, os grupos de maior renda tendem a passar mais tempo nas escolas e universidades, extraindo assim uma fatia maior da prebenda. Robin Hood às avessas ataca mais uma vez.

O resultado líquido da meia, assim, se contabiliza na forma de muitas ilusões e uma importante distorção na política de preços.

Minha modesta sugestão para resolver o problema é estender o benefício para toda a população. Pagando todos a metade do dobro, conseguimos preservar, a um só tempo, as fantasias de bom-mocismo e a realidade tarifária.

Em 06/05/2013, por Hélio Schwartsman, para o jornal Folha de São Paulo.

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