terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Produtoras de shows se unem contra meia-entrada para estudantes e idosos

"As empresas de entretenimento ao vivo não estão se unindo porque se amam, mas porque precisam se fortalecer em conjunto. Com a meia-entrada, o Estado faz política pública com dinheiro privado."
 
A declaração feita à Folha por Leo Ganem, presidente da Geo Eventos, se refere à criação, até o final deste ano, de duas associações no setor de eventos.
 
Uma para as produtoras de shows e musicais e outra para as empresas que comercializam ingressos.

O objetivo das associações é tentar reverter uma crise que se inicia no setor -os mais recentes sinais dela são o encalhe de ingressos e o cancelamento de shows.

O benefício da meia-entrada, que chega a atingir 90% do total da bilheteria de grandes shows internacionais, é apontado como o grande vilão do setor.

Para empresários e consumidores, o alto valor dos ingressos é o maior culpado por shows cancelados ou vazios. Caso da turnê da cantora pop Madonna, que se apresenta hoje e amanhã em São Paulo. Os ingressos variam entre R$ 150 e R$ 850 (inteira).

Ainda há ingressos para os 12 setores da plateia do show de amanhã, e em nove deles do de hoje. Para diminuir o prejuízo, a T4F, responsável pela turnê, reduziu o preço dos ingressos em até 50%.

MEIA-ENTRADA
As associações serão criadas a fim de reduzir a proporção de meias-entradas (seja por faixa etária ou por cota) nos eventos. Ou pelo menos conseguir que os governos arquem com parte do benefício.

Segundo a Geo Eventos, 90% dos ingressos vendidos até agora para os três dias do festival Lollapalooza 2013 são meias-entradas.

Para o empresário Luiz Oscar Niemeyer, da Planmusic, a falsificação de comprovantes de estudantes torna a previsão da receita de um show "praticamente impossível".

"Para compensar, colocamos o preço da inteira mais alto. Quem acaba penalizado com isso são as pessoas honestas", diz Niemeyer.

Entidades de defesa do consumidor veem riscos para o público dos shows caso algumas demandas das novas associações sejam contempladas. Para Márcio Marcucci, diretor de fiscalização do Procon-SP, a limitação do número de meias-entradas show não inibiria fraudes.

"As empresas devem aumentar o controle da comprovação do direito ao benefício, na venda e no acesso aos shows, e não buscar limitações para um direito consagrado. Seria um retrocesso."

CRISE À VISTA
O Brasil vive atualmente um crescimento acelerado do segmento de shows internacionais. Segundo levantamento feito pela Folha, o número de artistas e bandas estrangeiros triplicou neste ano em relação a 2010.

O cenário chamou a atenção de grupos de outros segmentos. Nos últimos anos, surgiram XYZ Live (do grupo ABC, de Nizan Guanaes), IMX (de Eike Batista) e Geo Eventos (ligada à Rede Globo).

O mercado estima que as cinco maiores empresas do setor movimentem entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano.

A nova concorrência trouxe choques de agenda de festivais de música e elevou cachês a ponto de tornar alguns shows deficitários.

Para Bazinho Ferraz, presidente da XYZ Live, as novas associações podem servir de espaço para se firmarem "acordos de cavalheiros" e evitar o declínio do setor.

A T4F, maior do segmento de entretenimento ao vivo na América Latina e a única com capital aberto, foi a primeira a apresentar sinais de crise.

Em comunicados a investidores, a empresa anunciou uma queda de 40% no número de ingressos vendidos entre janeiro e setembro deste ano (em relação ao mesmo período em 2011).

Segundo a T4F, o resultado negativo pode ser atribuído à distribuição dos shows ao longo do calendário (em 2011, as maiores rendas ocorreram no primeiro semestre).

No comunicado, a empresa manifestava esperança de bons resultados financeiros com shows de Lady Gaga e Madonna. Ambas turnês tiveram ingressos encalhados.

Com isso, o valor das ações da T4F caíram 10,29%.

Por Matheus Magenta, para a Folha de São Paulo.
 
Minha opinião
 
O problema da meia entrada atinge todas as frentes culturais. Como se a população fosse obrigada a arcar pelos prejuízos, ou desejos de sucesso financeiro dos organizadores de shows e suas estrelas. Se o problema é administrativo, causado pelos altos impostos, então significa que independente do grau de fama do artista, e da procura, sempre haverá um lado com lucro.
 
Claro que sempre há o lado rico da balança, mas esperar que o público seja responsável por esse patrocínio, sem que seja respeitado como consumidor e fã, é no mínimo chamar o público de idiota. O mesmo acontece com teatros e cinema. A diversão, o entretenimento, e de uma maneira geral, a cultura, acabam elitizados, sob efeito de preços que servem para o enriquecimento de alguns, e a alienação do público geral.
 
Não existem parâmetros, e qualquer comparação com modelos de outros países é forçar ainda mais a barra. Lá fora tudo é diferente, e não digo no sentido de enaltecer o lado mais verde do quintal vizinho, mas no sentido de perceber que as pessoas são respeitadas na fila de um cinema, na seleção de bandas e músicos que farão parte de um show, no acesso ao teatro e aos grandes espetáculos. Por aqui, pelo visto, a ordem é aquela do "tô pagando", e se eu estou pagando mereço o desrespeito e todo constrangimento enfrentado, já que, no geral, o importante é o lucro do organizador ou dos cinemas e dos teatros, independente de isso significar que a cultura se torne cada vez menos acessível para todos.

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