sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Valente

Existem algumas situações, ou acontecimentos que transformam uma produção e fazem dela algo especial. Na parceria entre Disney e Pixar (ambos Disney, agora), o histórico é positivo. Foram grandes e atraentes animações, que reciclaram e transformaram o gênero. Mas ultimamente, ou desde que a Disney comprou a Pixar, as coisas não funcionam tão bem assim.

Valente é uma animação maravilhosa. Desenho de primeiríssima qualidade, com detalhes riquíssimos, cores vibrantes, e que agrega à história, personagens ricos e divertidíssimos. Mas quem vê o trailer, ou mesmo a capa do filme, imagina uma situação completamente diferente. É possível confundir a trama com a de Mulan, desenho animado, também da Disney, que conta a história de uma garota que cresce em um mundo masculino e quer mudar as tradições. Quer fazer parte do exército, e batalhar. Ok, as histórias não se parecem nem um pouco, talvez apenas pelo desejo de mudar as tradições, mas era de se esperar que Valente fosse uma produção com mais força, com mais apelo, com um roteiro muito mais intenso.

Não, a história não é ruim. O filme segue uma narrativa mais lenta e cansativa. Demora para engrenar. Se apega a detalhes e ao valor da mensagem. Mensagem de muito valor, diga-se de passagem. Perde a oportunidade de envolver e investir nas tiradas mais engraçadas, comum nas animações, e ganhar de vez o seu público. Como aconteceu em Enrolados. Mas essa lentidão, essa falta de graça e, até mesmo da valentia que dá nome à produção, torna o filme um pouco confuso. A ponto de assustar algumas das crianças da sala de cinema, pela força de certos personagens e passagens mais intensas. E fazer com que alguns adultos perguntem se o filme quer vender a ideia de que os filhos devem enfrentar seus pais. Nenhuma das duas situações está correta. O filme é muito mais profundo do que é possível imaginar, e por isso mesmo perde um pouco daquela ligação com as animações que comumente assistimos. Não é um primor, mas tende a ter características de muitas produções Disney. Daquelas que preferem vender uma mensagem positiva, a um momento de puro entretenimento.

Tecnicamente o filme é maravilhoso. Detalhes riquíssimos e personagens que agradam em cheio. Algumas tiradas engraçadas são, de fato, muito boas, e fazem todos rirem. Outras, que poderiam ser melhor exploradas, perdem força, e deixam o filme lento e desanimado. É o caso dos irmãos da princesa Mérida. Três garotos endiabrados que poderiam gerar muitos momentos de muitas risadas, mas que são pouco explorados na história. Têm um importante papel, mas os produtores, ou o diretor, perdem a oportunidade de lhes dar uma chance de transformar a trama.

No filme, Mérida (Keely Macdonald) é uma habilidosa e impetuosa arqueira, filha do rei Fergus (Billy Connolly) e da rainha Elinor (Emma Thompson). Determinada a trilhar o próprio caminho, ela desafia um antigo costume considerado sagrado pelos ruidosos senhores da terra: o imponente lorde MacGuffin (Kevin McKidd), o carrancudo Lorde Macintosh (Craig Ferguson) e o perverso lorde Dingwall (Robbie Coltrane). Involuntariamente, os atos de Mérida desencadeiam o caos e a fúria no reino e, quando ela se volta para uma velha feiticeira (Julie Walters) em busca de ajuda, tem um desejo mal-aventurado concedido. Os perigos resultantes a forçam a descobrir o significado da verdadeira valentia para poder desfazer o brutal curso dos acontecimentos, antes que seja tarde demais.


Uma animação interessante, diferente daquelas que costumam pulular pelos cinemas. Parece investir na mensagem da história, e perde pelo menos metade do filme explicando e dando detalhes que são desnecessários e chatos. Técnica perfeita, com muitos detalhes e cores enriquecem a produção, que perde força com sua história cheia de firulas que não valeriam tanta intensidade. Ainda assim, com boas sacadas de graça e com uma moral da história de muito valor. Pra assistir, mas sem a pretensão de ser como outras animações atuais, como Shrek, Madagascar, A Era do Gelo, entre outros.


Ainda em tempo, em Walt Disney - O triunfo da Imaginação Americana, Neal Gabler coloca em um dos capítulos, que Disney não se preocupava em fazer filmes para as crianças (já falei um pouco a respeito disso no blog). Creio ser o caso de Valente. Claro que Walt Disney já se foi, mas parece que sua influência cultural ainda é muito forte em algumas das produções que levam a assinatura de seus estúdios. Valente parece mesmo não ser um desenho para as crianças.


FICHA TÉCNICA
Diretor: Mark Andrews, Brenda Chapman
Elenco: Kelly Macdonald, Emma Thompson, Kevin McKidd, Billy Connolly, Robbie Coltrane, Julie Walters, John Ratzenberger, Craig Ferguson
Produção: Katherine Sarafian
Roteiro: Brenda Chapman, Irene Mecchi
Trilha Sonora: Patrick Doyle
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Animação
Cor: Colorido
Distribuidora: Disney
Estúdio: Pixar Animation Studios / Walt Disney Pictures

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