quinta-feira, 24 de maio de 2012

Locadoras virtuais ou não


Não à toa, nos últimos dias divulguei algumas notícias a respeito da Netflix. Tudo para basear algumas considerações sobre os serviços de locação ou compra de filmes via internet, ou via streaming. Não se trata de uma opinião contrária à Netflix, até porque ela não é a única provedora deste tipo de serviço no Brasil, ou mesmo fora dele. Acontece que se tornaram um modelo, mas um modelo que merece algumas ressalvas.

Primeiramente, acredito que a iniciativa de disponibilizar filmes, séries, ou qualquer tipo de programação via internet, seja uma baita sacada. Todo serviço que facilite ou que permita um acesso melhor ao usuário sempre é válido. Mas esse tipo de opção tem se tornado a única. E é nesse ponto que percebo a disponibilização via streaming como algo negativo.

Aparentemente, o negócio de vídeo locadoras entrou em uma nova queda livre, talvez somente comparada à entrada das grandes redes no mercado e da mudança dos formatos de VHS para DVD. A locadora 2001, acostumada com os clássicos, se viu pressionada a entrar no mundo dos lançamentos, mas nunca perdeu o seu foco nos antigos. Isso fez com que, aparentemente, não sofresse o mesmo golpe que a rede Blockbuster. O problema, é que somos vítimas dos modelos estrangeiros e, quando a Blockbuster entrou em crise nos EUA, justamente pelo novo modelo de concorrência que surgia no meio online, a "filial" brasileira também surtou, e acabou nas mãos das Lojas Americanas, que aproveitou seus pontos e criou várias lojinhas meia boca.

O formato online chegou com tudo. O números de pessoas com acesso à internet é cada vez maior. As pessoas consomem via internet cada vez mais. Nada mais justo do que focar somente neste formato, ou aumentar o investimento. Acontece que lá nos EUA, que dita as regras nesse sentido, os serviços de streaming vêm sendo questionados nos últimos tempos. Quer seja pelo acervo, pelos valores cobrados, pela qualidade do serviço. E a quantidade de assinantes caiu (http://info.abril.com.br/noticias/mercado/netflix-perde-800-mil-assinantes-nos-eua-25102011-18.shl). Não sei se pela mesma razão, mas talvez impulsionados pelos resultados de fora, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) divulgou na edição de abril da sua revista, o resultado de pesquisas relacionadas a estes serviços de vídeo online, e os resultados não foram tão bons.

Existem problemas com questões contratuais, acervo disponível, problemas com a propaganda, mudanças nos pacotes dos assinantes, incompatibilidade com equipamentos,entre outros. O que fez com que usuários trocassem de serviço ou buscassem novas alternativas.

Independente de qualquer problema apontado por essa pesquisa, algumas perguntas me vêm à mente. Será que a nossa internet alcançou uma qualidade tão alta, que permite o uso de uma tecnologia de streaming com a mesma qualidade de um DVD ou até mesmo blu-ray? Obviamente, tudo depende da sua parte do negócio. O que eu quero dizer com isso? Bom, o filme, belo e formoso está a sua disposição porém, se a sua internet não é boa, se a sua TV ou computador não são bons, a culpa por qualquer questão de qualidade será somente sua. E o brasileiro, cá entre nós, se vira bem, mas quando precisa tratar entretenimento, quer ligar a TV e esquecer desses detalhes técnicos. O que eu concordo plenamente.

Também existe toda uma questão de concorrência. O acervo dessas empresas não contém lançamentos, diferentemente, por exemplo, dos pay per view fornecidos pelas TVs a cabo. Será que por uma questão de valores, esse detalhe seja tão superficial? Novamente, as pessoas gostam de lançamentos. Dificilmente um assinante busca clássicos ou filmes muito antigos para assistir com a família. Claro que existe um nicho de colecionadores ou saudosistas para isso, mas não chega a ser uma grande maioria.

Quanto à questão dos valores, tudo é uma questão de percepção. R$15 reais pode não ser muito, se você considerar somente a questão de poder assistir quantos filmes quiser. No entanto, a coisa começa a ficar mais cara se você considerar que precisará de um acesso à internet, um bom computador, ou uma TV de qualidade, que sejam compatíveis às exigências da empresa fornecedora dos filmes, e que toda a manutenção desses equipamentos é por sua conta. Sim, você também é o responsável pela saúde do seu aparelho de DVD, mas qualquer problema é infinitamente inferior em um equipamento que custa R$150 reais, perto de outro que custa mais de R$1.000, como é o caso de um computador.

Reforço minha opinião que, qualquer forma de permitir o acesso da população à cultura e ao entretenimento, sempre será válida. Mas aproveitar o oba oba tecnológico pelo qual o país atravessa, talvez não seja a maneira ideal de fazer isso acontecer (não questiono o bum comercial que existe por trás disso). Também acredito que mais importante do que fornecer qualquer serviço, também seja importante manter outras alternativas, que permitam que eu assista um belo filme caso minha conexão de internet tenha caído.

O avanço tecnológico não pode ser esquecido, mas ele tem que servir como mais uma opção, e não como a única. Imaginar que a ferramenta para assistir vídeos online é a única saída para aquele que busca entretenimento (tanto como consumidor como vendedor), é esquecer o deleite da experiência de entrar em uma video locadora física, e poder pegar na mão um DVD, ler sua sinopse, esbarrar em uma fileira onde existe aquele filme que você sempre quis assistir mas que nunca lembrava o nome, comprar a pipoca, o refrigerante e aquele sorvete, tudo ao mesmo tempo. Chegar em casa, se jogar no sofá, e se deliciar com o filme escolhido. E não entrar em um site tendo que saber exatamente o que se quer ver, ou se perder nas opções, nos cliques de um notebook incômodo (ou algo menor e ainda mais difícil de se visualizar), e esperar o download do filme escolhido, torcendo para que a energia não acabe, ou que sua internet não sofra com as variações de velocidade, sentado em sua não tão confortável cadeira de escritório.

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