segunda-feira, 28 de junho de 2010

O estranho mundo via cabo


Sou um grande admirador da televisão, perco boa parte do meu tempo livre em frente a ela. E, ouvi muita coisa a seu respeito, e também vi muita coisa surgir. Coisas boas, coisas medianas, coisas ruins e coisas muito ruins.

Quero acreditar que a TV a cabo tenha sido uma grande sacada daqueles que controlam esse veículo de comunicação. Não só por cobrar por aquilo que as pessoas (pelo menos a grande maioria) mais gostam, ao mesmo tempo em que oferece uma variedade de opções em atendimento a todas as tribos televisivas.

Sou assinante desse serviço desde 1995. Um relacionamento cheio de emoções, desde o mais insano amor até o mais áspero ódio. Sendo que a passagem de um para o outro aconteceu como o simples ato de trocar o canal.

Não quero parecer um falso moralista, daqueles que dizem que a TV não presta e que o melhor é ler livros e coisas afins. Gosto de TV e recomendo, mas com doses homeopáticas.

Também não tenho a intenção de comparar a TV aberta com a TV fechada. Quem teve a oportunidade de assistir as duas vai entender bem do que eu estou falando. E deixo claro que o meu sentimento em relação à primeira é de repúdio e asco total. Afinal de contas, investir em programas iguais por mais de 10 anos só pode insinuar que sua audiência é muito estúpida.

Mas vamos ao que interessa. Primeiramente, o início da TV a cabo foi algo sensacional. O sinal nem sempre estava lá, mas a programação era algo impressionante. Filmes realmente inéditos, séries variadas, desenhos animados de qualidade, programas culturais que realmente continham cultura, enfim, um sonho.

A própria concorrência tornava a coisa toda interessante. Tínhamos dois grandes (grupo Globo e grupo Abril) brigando intensamente por assinantes, numa troca que só poderia trazer bons resultados aos seus telespectadores.

E então os problemas começaram a ser identificados. A programação era boa, mas a quantidade de repetições era impressionante. Eu, por exemplo, era daqueles fãs de carteirinha dos seriados americanos, que não podia esperar pelo próximo episódio. No período de férias, as emissoras só distribuíam repetecos. Mandei e-mails, liguei, fiz amizade com o serviço telefônico de algumas delas, tudo em vão.

Chegava o final do ano e as séries eram interrompidas até depois do carnaval. A resposta que eu mais recebi foi que isso era feito “em respeito aos assinantes/fãs que viajavam na época de festas”. Realmente, respeito aos que viajavam de novembro a março, e desrespeito àqueles que precisavam trabalhar para pagar a mensalidade do serviço de TV.

Mas depois de alguns anos, me acostumei, e desisti de brigar. Mudei meu perfil para os programas culturais, daqueles que passam nos canais que exalam história e curiosidades acerca de assunto ligados à geografia, química e física. Tudo era maravilhoso. Tomadas espetaculares, ângulos jamais conseguidos, fotografia de cinema, enfim, tudo do melhor.

E então os publicitários descobriram o nicho da TV a cabo. O lema era: invista!!! E foi o que fizeram. Aqueles programas que duravam trinta minutos, passaram a durar uma hora e meia. Tudo graças aos incansáveis comerciais. Eu conseguia assistir a 3 programas ao mesmo tempo, sem perder nenhuma parte de qualquer um deles. Até que descobriram que isso era possível, e os comerciais passaram a ser combinados para passarem no mesmo momento e com a mesma duração.

Reassumi a infância e me tornei um fã dos desenhos animados. Maravilha. Adorava aqueles desenhos mais escrotos, cujo personagem não tinha os traços definidos ou cuja história não tinha nada para contar. Mas alguém tirou os pop-ups do computador e socou nos desenhos. Cada vez que começava um, era uma enxurrada de chamadas de programação, concursos, frases do dia, interatividade ou, simplesmente, algum bichinho tinha que pular no meio da história. Resolvi desistir.

Então migrei para o lado forte da coisa: os filmes. Estranho não ter começado com eles, desde que assumi minha cinefilia. Adoro filmes, e meu hábito de colecionar dificultava encontrar lançamentos que eram, de fato, novidades, mas mesmo assim, valeria a intenção.

Em um primeiro momento, gostei do que vi. A variedade era boa, e eu podia curtir o filme do jeito que mais gosto, desde a chamada do limite de idade, até o finalzinho dos créditos.

Novamente fui pego de surpresa pelos amigos da publicidade. Às vezes esperava o mês inteiro para pegar aquele filme exclusivo e, na hora “H”, quando tudo já estava iniciado, surgia uma chamada de um sabonete, ou um banco, ou um perfume que nem podia ser encontrado nas lojas.

Mas a coisa não parava por aí. Os letreiros que indicavam os nomes daqueles que haviam trabalhado para construir o filme começaram a voar. Tudo para aumentar o tempo dos comerciais.

Dessa vez a coisa tinha sido profunda, mas ainda não queria desistir. Descobri que a madrugada era muito melhor, com menos comerciais e mais programas com a minha cara. Infelizmente, os vendedores de tapetes, jóias e gadgets que só funcionam na TV invadiram a minha noite e tomaram a minha programação.
Pra fechar o cerco (ou seria o circo?), desde maio desse ano passou a vigorar o Projeto de Lei 29, do deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), que exige que um percentual de canais e programação do horário nobre contenham material nacional. Isso, além de tentar quebrar monopólios (ah, fala sério...) permitindo que empresas de telefonia móvel e fixa participem desse nicho de entretenimento. A coisa ainda está em fase de ajustes, mas mais uma vez a nem tão especial programação da TV a cabo deverá inserir conteúdo que não me interessa.

É claro que tudo isso ainda acontece na programação atual, algumas coisas ainda em fase de adaptação, ou em aspectos muito mais invasivos. Tudo isso faz com que eu duvide daquela coisa de pagar pra ver o que se quer. Todos nós pagamos por uma TV que acreditamos ser menos poluída, e melhor intencionada (se é que isso existe). Mas no final, todos nós somos enganados na intenção de se ter algo com qualidade.

A solução? Mobilizar os assinantes por uma programação melhor. Coisa que eu, particularmente, não acredito ser possível. Mas fica aqui a sugestão. E, se alguém tiver outra idéia, me avise. Pois estou louco pra ter a TV a cabo com um pacote de canais e programas pelos quais o meu dinheiro realmente mereça ser gasto.

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