sexta-feira, 14 de maio de 2010

O 3D não vai salvar o cinema, é só uma ferramenta para brincar


Enquanto lota salas de cinema no mundo todo com sua versão 3D de “Alice no País das Maravilhas”, o americano Tim Burton terá com seu júri pelos próximos dez dias a tarefa de dar a Palma de Ouro a um filme da competição de Cannes. São filmes de autor que normalmente não conseguem nem um centésimo do público que ele conseguiu com seu último blockbuster.

“Um festival de cinema pra mim já é algo como um filme de fantasia. Não há preconceitos, vamos sentir os filmes e discuti-los racional e emocionalmente. Não estamos procurando por nada específico neles. Em vez de julgar, vamos vê-los com generosidade. Não queremos ser nove artistas com raiva (nine angry artists)”, declarou, fazendo uma brincadeira com o filme “Twelve Angry Men” (Doze Homens e uma Sentença, 1957), de Sidney Lumet.
Entre os oito artistas que lhe ajudarão na tarefa, está Benicio Del Toro, vencedor da Palma de ator em Cannes em 2008 por encarnar o guerrilheiro Che Guevara no épico “Che”. Há ainda duas atrizes: a inglesa Kate Beckingsale, a mocinha de “Pearl Harbor”; e a italiana Giovanna Mezzogiorno, que já trabalhou com Wim Wenders (“Palermo Shooting”) e Marco Bellochio (“Vincere”).

Outros três começaram a carreira como escritores e críticos de cinema: o cineasta espanhol Victor Erice, diretor do aclamado “O Espírito da Colmeia” (1973); o francês Emmanuel Carrère, autor do romance “O Adversário”, origem do filme estrelado por Daniel Auteuil; e o italiano Alberto Barbera, diretor do Museu do Cinema de Turim. Completam o time o cineasta Shekar Kapur, indiano radicado na Inglaterra, conhecido pelos filmes “Elizabeth” e “Elizabeth – A Era de Ouro”; e o compositor francês Alexandre Desplat, autor de 120 trilhas sonoras pra cinema, entre elas as de “Julie && Julia”, “Lua Nova” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

Perguntado por UOL Cinema se acha que algum dia Cannes poderá ter um filme em 3D competindo pela Palma de Ouro, Burton minimizou a importância da nova tecnologia: “Quando surgiu a animação por computador, todo mundo achava que a animação manual ia acabar, mas não acabou. Não acredito nessa história de que o 3D vai salvar o cinema, o mundo ou mesmo a economia. É só mais uma ferramenta com a qual nós diretores podemos brincar”.

Ao final, foi do espanhol Victor Erice a frase mais bonita sobre o trabalho do júri: “Toda seleção de filmes é um espelho de duas faces. Uma representa o presente, a outra é uma amostra do que o cinema pode ser no futuro. Essa segunda face é certamente a mais apaixonante”.

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