quinta-feira, 29 de abril de 2010

Woody Allen, o cineasta camaleão

Por Sérgio Rizzo, especial para o Yahoo! Brasil (em 29/04/2010 no link http://br.noticias.yahoo.com/s/28042010/48/entretenimento-woody-allen-cineasta-camaleao.html )

Pode-se acusar Woody Allen de tudo, menos de ser preguiçoso. Em 44 anos de carreira, ele assinou 41 filmes para cinema como diretor e roteirista. Nesse período, trabalhou também como ator para outros cineastas, escreveu peças e contos, e ainda arrumou tempo, religiosamente, para tocar clarinete em sua banda de jazz.

Aos 74 anos, o sujeito não para: seu penúltimo filme, "Tudo Pode Dar Certo", entrará em cartaz no Brasil na próxima sexta-feira (30); o mais recente, "You Will Meet a Tall Dark Stranger", deverá estrear nos Estados Unidos em setembro; e o seguinte, "Midnight in Paris", será rodado em breve e terá a primeira-dama francesa Carla Bruni no elenco.

Gosto muito de Allen, e foi dureza chegar a uma lista com apenas 10 de seus filmes. Na seleção abaixo, tem um pouco de tudo o que ele fez -- de comédias mais descompromissadas a dramas sombrios. Como o personagem Leonard Zelig, uma de suas antológicas criações, Allen também é um pouco camaleão.

Veja a lista:

10 - "O Dorminhoco" (Sleeper, 1973)
A mais elaborada comédia de sua primeira fase como diretor, que inclui "Um Assaltante Bem Trapalhão" (1969) e "Bananas" (1971). Gags visuais complexas lembram o humor do cinema mudo. A trama, de ficção científica, é ambientada em uma sociedade autoritária no ano de 2173.

9 - "A Outra" (Another Woman, 1988)
Destaque entre os dramas psicológicos que afugentam uma parcela do público de Allen, mas que o satisfazem mais do que suas comédias. Em "A Outra", uma professora (Gena Rowlands) ouve sessões de terapia pela tubulação do prédio, e se interessa pelo drama de uma paciente (Mia Farrow).
8 - "Um Misterioso Assassinato em Manhattan" (Manhattan Murder Mystery, 1993)
No argumento original de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", havia a investigação de um crime. A situação desapareceu do roteiro, mas retornou nesse divertido reencontro entre Allen e Diane Keaton, que brincam com a tradição do filme policial "noir" dos anos 40 e 50.

7 - "Desconstruindo Harry" (Deconstructing Harry, 1997)
Harry Block, personagem de Allen, é um escritor com bloqueio criativo. Para piorar, as ex e atuais mulheres de sua vida o atormentam porque não gostam do modo como suas histórias as retratam. No mundo de Block, a realidade se combina com a ficção, a fantasia e as memórias.

6 - "Hannah e Suas Irmãs" (Hannah and Her Sisters, 1986)
Dividido em 16 segmentos, o filme acompanha três irmãs (Mia Farrow, Dianne Wiest e Barbara Hershey) e diversos personagens ligados a elas. Começa em uma festa pelo Dia de Ação de Graças, termina em outra -- com um final de que o próprio Allen, exigente, diz não ter gostado.

5 - "Memórias" (Stardust Memories, 1980)
Aqui, Allen toma como referência o clássico "Oito e Meio" (1963), do italiano Federico Fellini, para brincar com o lugar que ocupava no cinema dos Estados Unidos. Seu personagem, Sandy Bates, é um comediante de sucesso que resolve fazer dramas, para frustração de muitos de seus admiradores.
4 - "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall, 1977)
Comédia romântica que recebeu o Oscar de melhor filme, direção, atriz (Diane Keaton) e roteiro original (Allen e Marshall Brickman). O cineasta não foi buscar os prêmios: durante a cerimônia de entrega, em uma segunda-feira, preferiu tocar com sua banda de jazz em Nova York.
3 - "Zelig" (idem, 1983)
A vida misteriosa de Leonard Zelig, o "homem camaleão", é reconstituída em forma de documentário (ou "mockumentary", documentário falso). Allen faz Zelig, caracterizado até como negro. Os escritores Susan Sontag e Saul Bellow dão "depoimentos" sobre ele no filme.


2 - "Manhattan" (idem, 1979)
Cenário da maioria dos filmes de Allen, a ilha de Manhattan, em Nova York, ganha status de personagem neste longa. Observada com nostalgia, ela é descrita pelo protagonista como algo que "só existia em preto-e-branco e ao som de George Gershwin" -- como o cineasta a filma.

1 - "Crimes e Pecados" (Crimes and Misdemeanors, 1989)

A cultura judaica, a discussão sobre o sentido da vida e a existência de Deus, o sucesso e o fracasso na sociedade contemporânea, o tema da culpa: alguns dos pontos-chave na obra de Allen iluminam a história de um oftalmologista (Martin Landau) em crise de consciência.



Nenhum comentário: